Uma equipe do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, fez a descoberta após tratar de uma mulher que havia parado de sonhar depois de ter tido um derrame.
O derrame havia afetado uma área no fundo da parte de trás do cérebro - e os cientistas acreditam que essa é a área onde os sonhos são criados.
Os pesquisadores, que escreveram na revista acadêmica Annals of Neurology, dizem que a descoberta oferece novas possibilidades para as pesquisas sobre os sonhos.
A paciente de 73 anos perdeu uma série de funções do cérebro, a maior parte relacionada à visão, depois do derrame.
A maior parte desses efeitos foi sentida alguns dias depois do derrame, mas, aí, ela parou de sonhar. Antes do derrame, ela costuma sonhar três ou quatro vezes por semana.
Síndrome -A perda da habilidade para sonhar - juntamente com problemas na visão - como conseqüência de danos a uma parte específica do cérebro é chamada de síndrome de Charcot-Wilbrand, levando os nomes dos neurologistas Jean-Martin Charcot e Hermannn Wilbrand, os primeiros a descreverem a condição nos 1880s.
A síndrome é bem rara, especialmente casos onde somente a perda da capacidade de sonhar é verificada.
Os pesquisadores suíços decidiram monitorar a paciente para tentar descobrir que parte do cérebro era afetada em pessoas com a condição.
As ondas do cérebro da mulher foram monitoradas por seis semanas enquanto ela dormia.
O sono da paciente não foi alterado e ela continuava apresentando o movimento rápido dos olhos como normal.
Isso é significativo porque normalmente o movimento dos olhos e os sonhos acontecem juntos, mas pesquisas já indicaram que as duas atividades são reguladas por sistemas independentes do cérebro.
Imagens do cérebro da paciente mostraram que o derrame havia danificado uma área localizada no fundo da parte de trás do cérebro dela.
Danos cerebrais -
Outros estudos mostraram que parte dessa região do cérebro está envolvida no processamento visual de rostos e paisagens, assim como no processamento de emoções e memórias visuais, o que parece bem lógico para uma região que estaria relacionada à origem ou ao controle dos sonhos.
Cerca de um ano depois do derrame, a paciente passou a ter algum ou outro sonho, mas nunca mais do que um por semana.
Ela informou que os sonhos que tinha eram menos vívidos e menos intensos do que os que ela tinha antes do derrame.
"Como os sonhos são criados, e qual a utilidade deles, são questões ainda completamente em aberto até o momento", escreveu o médico Cláudio Bassetti, do Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Zurique, na revista Annals of Neurology.
"Esses resultados descrevem pela primeira vez em detalhe o tamanho necessário da lesão para que haja perda da capacidade de sonhar, na ausência de outros problemas neurológicos".
"Dessa forma, eles oferecem um foco de atenção para estudos futuros interessados na localização do ato de sonhar".
"Outras conclusões sobre essa região do cérebro e o seu papel nos sonhos vão depender de mais pesquisas analisando as mudanças no padrão de sonhos de pacientes com danos no cérebro", completou o médico.
Fonte: BBC Brasil
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