Último segundo do dia 31 vai acontecer duas vezes
Terra atrasa-se e torna 2008 ano mais longo
As badaladas da meia-noite, para serem certas, devem este ano começar a bater com um segundo de atraso.
A mudança da hora padrão será feita nos relógios atómicos de todo o Mundo. Temos de acertar o nosso ritmo com a rotação da Terra.
O ano de 2008 será acrescentado em um segundo, adiando por essa fracção de tempo a passagem para 2009. O marca-passo é feito nos relógios atómicos das entidades que, em cada país, têm a responsabilidade de zelar pela hora-padrão. No caso português, o Observatório Astronómico de Lisboa.
Segundo explicou ao JN o director do Observatório, este atraso em um segundo torna-se necessário para nos sincronizarmos melhor com a velocidade de rotação da Terra. Disse-nos Rui Agostino que a divisão do tempo dos dias e noites no nosso planeta em horas, minutos e segundos distribuídos por um ano foi feita e acordada em 1820. Desde então, no entanto, a rotação da Terra foi ficando mais lenta e os 86.400 segundos das 24 horas podem não corresponder exactamente ao tempo de uma rotação da Terra . A diferença, para mais, no tempo de rotação da Terra sobre si própria implicaria um notório desacerto, caso se fosse acumulando.
O desfasamento só foi notado na década de 60 do século passado devido à alta precisão dos relógios atómicos. Assim, desde os anos 70, a comissão internacional encarregada de zelar pelo nosso tempo planetário, passou a contemplar a possibilidade de os relógios serem atrasados. O acerto mais recente foi feito em Dezembro de 2005. O primeiro ocorreu em 1972 e, desde então, houve que somar 24 segundos. Haverá anos em que caberá mais do que um segundo. Nesse caso, um dos dois acertos recairá em Junho ou Julho. A decisão quanto á necessidade de introdução de um segundo intercalar cabe ao Serviço Internacional de Rotação da Terra e dos Sistemas de Referências, com sede em Paris.
O Observatório Astronómico de Lisboa, encarregado de zelar pela hora padrão (o Tempo Universal Coordenado- TUC) já tem programada esta alteração, que será feita nos cinco relógios atómicos ali existentes. Trata-se de equipamentos que têm rubídio incorporado em estado gasoso. O rubídio tem propriedades metálicas quando se encontra em estado sólido. Os relógios com este elemento químico dizem-se atómicos porque utilizam as suas transicções electrónicas.
Segundo explicação do astrónomo Rui Agostinho, não é propriamente o andamento dos relógios atómicos que vai ser alterado; haverá, isso sim, um compasso de espera no último segundo do ano, que será repetido ou contado duas vezes.
Esta alteração, em alguns países, pode não ser tão próxima da passagem de dia e de ano; por exemplo, em França, ela está marcada para quase uma hora depois das badaladas da meia-noite. Em Portugal, que segue a hora legal do fuso do meridiano de Greenwich, a mudança será feita verdadeiramente mesmo tempo, mas 60 minutos mais cedo nos mostradores dos relógios comparativamente à Europa central.
Era electrónica torna hora legal cada vez mais importante
Transacções de dinheiro ou documentos por via electrónica tornaram-se correntes e é o tempo nelas marcado que agora conta. Programas de computador sem a hora legal ajustada podem ser fonte de problemas.
Transferências de dinheiro, compra de acções, cadernos de encargos para um concurso de obras públicas, envio de um documento a um tribunal. Tudo isto pode ficar com o prazo de entrega comprometido pela diferença de um segundo no relógio do computador. Pode haver sérios conflitos de interesses desencadeados por essa diferença, confirma o director do Observatório Astronómico de Lisboa, que refere já ter havido para o instituto que dirige e para a Comissão Permanente da Hora pedidos de parecer sobre a matéria.
"Antes, o grosso da nossa vida em termos legais, administrativos ou comerciais era feito com papéis e o que contava como selo do tempo era o carimbo dos CTT. Agora, os documentos são digitalizados e dão entrada por via electrónica", sublinha Rui Agostinho, chamando a atenção para a importância da sincronização com a hora legal seja em computadores pessoais, de empresas ou serviços. Por exemplo, quando a Central de Compras do Estado passar em breve a só aceitar concursos por via electrónica pode haver quem perca adjudicações se estiver atrasado um segundo. A banca e todo o mundo financeiro, incluindo a bolsa, são os mediadores com mais implicações nesta diferença de um segundo, que pode ditar que uma operação seja datada a 31 de Dezembro ou a 1 de Janeiro. E isso pode dar azo a um grande imbróglio.
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