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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Livro do Porto ao Recife - Os pintos de Lemos

Bom dia para a minha querida amiga que lançou mais um livro no Rio de Janeiro e eu não estava lá!!!

Indico vivamente esta obra. Há muita história interessante e um grande sentido de humor da Regina.


Livro DO PORTO AO RECIFE - OS PINTO DE LEMOS

Lançamento realizado no Rio de Janeiro em 25-10.

Vários dos presentes pediram cópia do poema final ou mesmo de toda a fala

que Clotilde de Santa Cruz Tavares - paraibana de Campina Grande e residente

em João Pessoa, que veio ao Rio para a festa de lançamento do livro - fez na

ocasião e que encantou a todos.

Mesmo que possa parecer grande, é muito interessante

e tenham a certeza de que vale a pena ser lida. Clotilde Tavares é medica,

professora universitária, autora teatral, poetisa, cronista, e mais uma porção de coisas...

Fala de Clotilde Tavares no evento de lançamento do livro de Regina Cascão, Do Porto ao Recife- Os Pinto de Lemos, no Rio de Janeiro, a 25 de outubro de 2008.

Meus amigos,

Convidada que fui para falar neste evento, convite que atribuo mais à afinidade que me une à nossa homenageada de hoje – Regina Cascão Viana – do que ao meu conhecimento genealógico, quero iniciar com uma frase do Padre Antonio Vieira, proferida no Sermão da 5ª Terça feira da Quaresma.

Palavras de Vieira: “São João diz que no tempo em que os anjos no Céu estavam cantando os louvores de Deus, se fez lá pausa e silêncio pelo espaço de meia hora para se ouvirem as vozes da terra”. Eu farei por não exceder esta meia hora, uma vez que depois dela os anjos voltam a cantar e nós aqui em baixo elevaremos nossas vozes em vão.

Começo com um poema:

— O meu nome é Severino

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem fala

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba.

(João Cabral de Melo Neto. Morte e Vida Severina.)

O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, neste versos imortais com que abre o poema Morte e Vida Severina, dentro da simplicidade da sua poesia, cortante e pura como a lâmina de uma faca, estabelece os princípios da Genealogia.

Quem sou, onde nasci, quem são meus ancestrais, quando nasceram, onde moraram e viveram.

Mas o que é a genealogia? Para que serve? Como somos levados a praticá-la? Fazemos um curso? Uma faculdade de Genealogia?

Quem é o genealogista? Quais as características especiais que alguém precisa ter para se dedicar a essa atividade? Quais os pré-requisitos?

E por que as pessoas que não são genealogistas, ou que não têm essa paixão, não nos compreendem? Por que essas pessoas consideram o que fazemos como “mania de gente velha”, “diversão que mamãe arranjou depois de aposentada”, “sumidouro de tempo e de dinheiro”, “mania de viver dentro de cemitérios”, “viciada em papel velho e empoeirado”, e outras definições, todas essas eu já tendo ouvido da boca dos meus amigos e familiares?

As pessoas sempre estão querendo saber para que serve isso tudo. No mundo utilitário em que vivemos, é inaceitável dedicar-se a uma atividade que não tenha um tipo de retorno palpável e concreto, e melhor ainda se for em forma de dinheiro. Ouro e glória, dólares e fama, euros e notoriedade, quem desprezaria a busca desse binômio que a Humanidade persegue há séculos?

Quem abandonaria o brilho dos refletores, as conferências bem remuneradas, o reconhecimento da academia, a escrita de livros que todos compram, as filas de autógrafos nas bienais do livro, ou a fama no universo da Internet? Quem deixaria de ir nas férias às grandes cidades do mundo para, ao contrário, mergulhar nas pequenas freguesias perdidas no interior do Brasil, Portugal, Itália, à procura de elos familiares perdidos?

Quem publicaria com dinheiro do próprio bolso livros com listas e mais listas de nomes de pessoas que já morreram (com índice onomástico no final, é claro), livros que só meia dúzia de doidos como o próprio escritor compram e lêem?

Quem deixaria de sentir a solidão da meia-idade para povoá-la não com gente viva, mas com gente já morta e enterrada, já tornada pó, e permitir que essas pessoas criassem novamente vida, alma, pensamentos, sonhos e projetos?

Nós, Genealogistas, fazemos tudo isso. Somos nós, essas criaturas, meus caros presentes.

E deixem-me contar como foi que me tornei genealogista.

Uma das coisas que eu mais gostava no meu tempo de menina era de ouvir as histórias contadas sobre o tempo em que Mamãe era jovem, era criança, e morava na fazenda. A fazenda ora era a Broca, em Angelim, ora era Boqueirão, em Caraúbas, na Paraíba.

As histórias, os personagens, excitavam minha curiosidade e me lembro de que queria muito saber quem eram essas pessoas de quem Mamãe falava. Falava-se em tia Emília e eu perguntava:

– Tia por quê?

– Porque era irmã de papai – ela respondia.

E eu ia compondo o quadro. Pepedro, meu avô, pai de Mamãe, irmão de tia Emília, de tio Bebiano, de tio Azarias...

Aí Mamãe dizia:

– Não, tio Azarias não era irmão de papai, era irmão de meu avô Teotônio.

– E o irmão do avô também é tio, Mamãe?

– É – respondia ela. E explicava: – Tio-avô.

– E o que Madrinhadal é da senhora, Mamãe?

– É minha irmã mais velha. O nome dela é Adalgisa, mas a gente chama Adal. Madrinha Adal. Ela é sua tia. É minha irmã e é também minha madrinha porque como eu sou a sétima filha tive que ser afilhada da mais velha para não virar lobisomem.

– E as pessoas viram lobisomem? – perguntava eu.

– Viram sim!

E a voz de Mamãe ganhava um tom sério, dramático, quase religioso.

– Na noite de Lua cheia a pessoa vai dormir e no outro dia acorda todo suja de lama, de terra, cansada, não se lembra de nada. É que virou lobisomem de noite, e passou a noite correndo pelos matos. Mas só quem vira é o sétimo filho...

– E a senhora nunca virou?

– Não! Eu não já disse a você que sou afilhada de Madrinha Adal? Não tem o menor perigo.

– E eu vou virar lobisomem também?

– Oxente, menina! Não vai não. Você é a mais velha...

Eram assim as histórias. Nas noites sem televisão da minha infância, o mundo ia sendo explicado, traduzido, decodificado, cheio de informações. Parentesco, costumes, tradições, rituais, normas de estar no mundo, no mundo da cidade, em que eu morava, em Campina Grande, na Paraíba, mas sob o código sertanejo-caririzeiro de Mamãe, que tinha suas raízes profundamente plantadas no caldo cultural daquelas regiões.

Na adolescência, lendo todos os livros que havia em casa, e eram muitos, casualmente abri “Pedaços da História da Paraíba”, de Cristino Pimentel . Folheando suas grossas páginas, um nome me chamou a atenção: Santa Cruz. O livro referia-se ao Dr. Augusto Santa Cruz, um advogado, e falava de uma briga desse homem com os poderosos da terra, sendo ele próprio também um rico e poderoso fazendeiro.

Eu não entendi a história direito, mas ele tinha o mesmo sobrenome que eu: Santa Cruz.

Perguntei logo a Mamãe se aquele homem era nosso parente. Ela respondeu que era primo, primo da mãe dela. Então é parente meu também, pensei, e fiquei me sentindo importante porque um parente meu tinha sua história contada num livro.

A curiosidade ficou comigo ao longo dos anos, junto com o gosto pelas linhagens e parentescos que voltei a descobrir quando, já adulta, no métier teatral, estudei as chamadas “peças Bolingbroke”, de autoria de W. Shakespeare, com todas as intrincadas relações de parentesco entre os reis da Inglaterra. Era o aspecto mais fascinante daquele estudo, e entretinha-me a desenhar as árvores genealógicas Tudor, Lancaster, York e Plantageneta.

Nunca consegui resistir a um livro onde houvesse uma história que se desenrolasse através de gerações. “Cem anos de Solidão” de Gabriel Garcia Márquez, com seu interminável desfile de Aurelianos e José Arcadios, e Anne Rice, autora de “Entrevista com o Vampiro”, com suas histórias sobre as bruxas Mayfair, me deram abundante material para exercitar minha capacidade de destrinchar parentescos.

Enquanto isso, a vida seguia seu curso, e eu tinha que estudar, trabalhar, dar aulas, criar os filhos, fazer teatro, escrever, pesquisar, viver.

As perguntas, porém, continuavam, latentes.

Em 2000, quando já me aproximava da aposentadoria, comecei a conversar com as pessoas da família, poucas, as mais velhas, que ainda eram vivas, e a juntar documentos, fotos e papéis.

Conheci melhor a região do Cariri Paraibano, de onde vinham meus antepassados mais recentes e aprendi a amar aquele torrão mais ainda, do qual disse uma vez:

Desde o século dezenove

Que meu povo vive aqui

Como velhas baraúnas

Plantadas no Cariri

Homens de têmpera forte

Mulheres de altivo porte

Foi desse clã que eu nasci.

Coronel João Santa Cruz

De Alagoa do Monteiro

Foi o meu antepassado

Que chegou aqui primeiro

Depois Teotônio, um sobrinho

Veio ser o seu vizinho

Ali fez seu paradeiro.

Teotônio era mascate

Homeopata e curador

Foi radicado na Prata

E corria o interior

Pai da minha avó Inez

E filhas teve mais três

Foi ele o meu bisavô.

Inez, na era de doze

Casou com Pedro Quirino

Viveram em Coxixola

Criando gado e menino

São meus troncos ancestrais

E existem muitos mais

Neste solo nordestino.

Comecei a montar o quadro da minha ascendência, mas encontrei dificuldades que, na época, não consegui superar. Foi aí que descobri não a genealogia, mas os genealogistas.

E onde eu os descobri? Na Internet, onde, na ânsia de aprender alguma coisa sobre Genealogia, comecei a navegar pelos sites, e a ler coisas interessantes. Assinei umas três listas de discussão sobre o tema e fiquei somente lendo as mensagens, para entender que tipo de gente era aquela, que passava anos cascavilhando até descobrir o nome de uma bisavó, ou de um tetravô desaparecido nas sombras do passado. Surpreendentemente, comecei a achar essas pessoas muito parecidas comigo.

Se inicialmente eu estava perdida em denso nevoeiro, sem enxergar os caminhos à minha frente, e sem sequer saber se existiam tais caminhos, a freqüência às listas foi como se o sol se levantasse sobre a paisagem e expulsasse a névoa, espantasse a bruma, lançando luz sobre os campos e indicando os caminhos.

.

Aos pouquinhos, comecei a intuir por onde deveria ir e ainda com muita timidez, atrevi-me a fazer minhas primeiras interferências nas listas de discussão, fazendo perguntas e até me metendo a esclarecer algumas coisas, quando achava que podia ajudar.

Fui descobrindo meu passado, minha ancestralidade, e a cada novo achado me sentia mais gente, me sentia mais ligada. Descobri que além de Santa Cruz Tavares, que são meus sobrenomes, eu também era Quirino Ferreira, Vasconcelos, Salgado, Duarte, Reinaux, Oliveira, Silva Tavares, Nunes, Pereira, e sabe-se lá quantos mais que ainda não consegui descobrir.

E também fui conhecendo as pessoas, algumas das quais vejo hoje aqui pela primeira vez, e que não só me orientaram como me brindaram, me presentearam com sua amizade e seu carinho.

A amizade dessas pessoas enriquece a minha vida. Hoje, graças a elas, a pesquisa das minhas origens Santa Cruz está bem avançada e orientada, e eu quero nomear algumas, mesmo correndo o risco de esquecer uma ou outra. Pedro Auler, Gustavo Lemos, Carlos Barata, Francisco Antonio Doria, Cinara Jorge, Fábio Arruda Lima, Leila Ossola, Ricardo Lobo, Dulce Loyola, Aristóteles Rodrigues, o “Tote”, Laura Saint-Brissson, Letícia Melo e a homenageada desta noite, a nossa Owner, Moderadora da lista Geneal-BR, Regina Cascão, mais conhecida entre os listeiros como “Dona Maroquinha”.

Mas eu quero terminar

Repetindo uma cantiga

Que eu fiz um dia desses

Para essa minha amiga

Que hoje lança esse livro

Sem inveja e sem intriga

Livro muito especial

E essa verdade me obriga

A fazer seu elogio

Tomara que eu consiga

É sobre os Pinto de Lemos

Família nobre e antiga

Do Porto até o Recife

Saga dos Pinto de Lemos

Mostra completa pesquisa

Do início aos extremos

Podemos fazer igual

Mais bem feito não podemos

Pois a grande experiência

Desta autora que conhecemos

E o saber genealógico

Que com Regina aprendemos

Enriquece a nossa vida

Aumenta aquilo que temos

Honra a Genealogia

Coisa que todos sabemos

O seu livro anterior

Sobre o Clã Pereira Lima

Trazia deste a semente

A sua matéria prima

Livros bem feitos demais

Com minúcia e com estima

Dados sérios, confiáveis

Qual prolífica vindima

Fotos, dados, certidões

Datas abaixo e acima

E com índice onomástico

Que quem consulta, se anima

Pois encontra os seus parentes

Sem alterar o seu clima.

Mas é preciso falar

Nesta amiga tão bacana

Repetindo a louvação

Que fiz em outra semana

Como sou fraca poeta

Minha inspiração é plana

Que isso não desmereça

A poesia paraibana

Que tento representar

Com esforço e muita gana

Mas voltarei a louvar

Regina Cascão Viana

Num dia em que a natureza

Em belezas se engalana

Pois hoje o dia é melhor

Do que os outros da semana

Geneais estão em festa

Louvando esta veterana

Nasceu dos Pereira Lima

Estirpe de quem se ufana

Mas antes veio o José

Lá da terra lusitana

Casar com Rita Florência

Beldade pernambucana.

Ela é mais que nossa amiga

É nossa querida mana

Não é mestra ou contra-mestra

Mas é de todos, Diana

Porém é preciso ter

Cuidado com essa Fulana

Falou besteira na lista

Onde é Owner e soberana

Vai pro caroço de milho

De joelhos uma semana

Pois a dona Maroquinha

É feroz qual caninana

Mas é brincadeira, amigos

Eu falo dessa Fulana

Com a gratidão no peito

E a lágrima na pestana

Pois é minha grande amiga

A quem eu elevo hosana

E como não bebo o álcool

O meu brinde é com tisana

Feita com capim cidreira

Ou com folha de lantana

Neste dia especial

O mundo fica bacana

E todos nós seus amigos

Somos uma caravana

De amor e de respeito

Para saudar nossa mana

Perca o amor do dinheiro

Deixe de ser muquirana

E compre logo o seu livro

Que tem preço de banana

Barato assim nunca vi

Nem em Feira de Santana.

Neste tarde de autógrafos

Viva nossa arqui-decana

Que escreva mais e mais livros

Que escreva um por semana

Brilhando em genealogia

Como estrela soberana

Sempre amiga, prestimosa

Sempre terna, sempre humana

E todos que aqui estão

Com brilho que não se empana

Repetem vivas a ela:

- Regina Cascão Viana!

Clotilde de Santa Cruz Tavares - 25.10.2008