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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

As mãos da minha avó

A minha avó que tinha mais de 90 anos, estava sentada num banco na varanda, e tinha um aspecto fraco.

Ela não se mexia, estava apenas sentada a fixar as mãos.
Quando me sentei ao pé dela, nem sequer se mexeu, não teve nenhuma reacção.
Eu não a queria perturbar, mas ao fim dum certo tempo perguntei-lhe se ela estava bem.
Ela levantou a cabeça e sorriu para mim.
- Sim, eu estou bem, não te preocupes, respondeu ela com uma voz forte e clara.
- Eu não a queria incomodar, mas você estava aí com o olhar fixado nas suas mãos, e eu apenas pretendi saber se estava tudo bem consigo.
- Já alguma vez viste bem as tuas mãos ? perguntou-me ela.
Quer dizer, vê-las como deve de ser.
Então eu olhei para as minhas mãos e fixei-as.
Sem compreender bem o que ela queria dizer, respondi que não, nunca tinha olhado bem para as minhas mãos.
A minha avó sorriu para mim e contou-me o seguinte:
Pára um bocadinho e pensa bem como as tuas mãos te têm servido desde a tua nascença.
- As minhas mãos cheias de rugas, secas e fracas, foram as ferramentas que eu utilizei para abraçar a vida
Elas permitiram agarrar-me a qualquer coisa para evitar de cair antes de eu aprender a andar.
Elas levaram a comida à minha boca e vestiram-me
Quando era criança a minha mãe mostrou-me como uni-las para rezar.
Elas ataram as minhas botas e os meus sapatos.
Elas tocaram no meu marido e enxugaram as minhas lágrimas quando ele foi para a guerra.
Elas já estiveram sujas, cortadas, enrugadas e inchadas.
Elas não tiveram jeito nenhum quando tentei segurar o meu primeiro filho.
Decoradas com a aliança de casamento, elas mostraram ao mundo que eu amava alguém único e especial.
Elas escreveram cartas ao teu avô, e tremeram quando ele foi enterrado.
Elas seguraram os meus filhos, depois os meus netos, consolaram os vizinhos e também tremeram de raiva quando havia alguma coisa que eu não compreendia.
Elas cobriram a minha cara, pentearam os meus cabelos e lavaram o meu corpo.
Elas já estiveram pegajosas, húmidas, secas e com rugas.
Hoje como nada funciona como dantes para mim, elas continuam a amparar-me e eu ainda as uno para orar.
Estas mãos contêm a história da minha vida.
- Pensativo eu olhava para as nossas mãos.
Nunca mais as verei da mesma maneira.
Quando eu me aleijo nas mãos, quando elas são sensíveis, quando acarinho os meus filhos, ou a minha esposa, penso sempre na minha avó.
Apesar da sua idade avançada, ainda teve inteligência suficiente para me fazer compreender o valor das minhas mãos.

A/D

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