Perdas Necessárias, de Judith Viorst
1. Separações graves no começo da vida deixam cicatrizes emocionais no cérebro porque atacam a conexão humana essencial: o elo mãe-filho que nos ensina que somos dignos de ser amados. O elo mãe-filho que nos ensina a amar. Não podemos nos tornar seres humanos completos – na verdade, é difícil tornar-se um ser humano – sem o apoio dessa primeira ligação.
2. Podemos criar estratégias de defesa contra a dor da separação. A indiferença emotiva é uma dessas defesas. Não podemos perder uma pessoa amada, se não amarmos. A criança que quer a mãe e cuja mãe nunca está presente pode aprender que amar e precisar é por demais doloroso… Outra defesa contra a perda pode ser a necessidade compulsiva de tomar conta de outras pessoas. Ao invés de sofrer, ajudamos os que sofrem. …a terceira forma de defesa é nossa autonomia prematura. Proclamamos nossa independência cedo demais.
3. Em vários momentos de nossa vida, podemos insistir: vou fazer sozinho. Vou viver sozinho. Vou resolver sozinho. Tomarei minhas decisões sozinho. E, tendo tomado essa decisão, é provável que nos sintamos mortos de medo de viver por nossa conta.
4. Geralmente, narcisistas são filhos de narcisistas. Os pais narcisistas usam e abusam inconscientemente dos filhos. Faça direito. Seja bom. Quero me orgulhar de você. Não me irrite. O trato tácito é o seguinte: se enterrar as partes que não gosto, então posso amá-lo. A escolha tácita é a seguinte: perder você ou me perder.
5. Ser um eu separado é a mais gloriosa, a mais solitária meta. Amar a si mesmo é bom, mas… incompleto. Ser separado é doce, mas a ligação com alguém fora de nós mesmos é muito mais doce. Nossa existência diária exige tanta aproximação quanto distanciamento, a inteireza do eu, a inteireza da intimidade.
6. Não podemos chegar ao amor adulto sem passarmos pelo amor infantil. Não podemos amar sem saber o que é o amor. Não podemos amar outra pessoa como outra pessoa se não tivermos suficiente amor por nós mesmos, um amor que aprendemos sendo amados na infância.
7. Um gerontólogo acrescenta isto: “ Ponha algodão nos ouvidos e pedras nos seus sapatos. Calce luvas de borracha. Passe vaselina nas lentes dos seus óculos e pronto, terá o envelhecimento instantâneo.
8. Descobre-se, por exemplo, que é possível conhecer os próprios sem automaticamente agir de acordo com eles. Descobre-se também que sentimentos conhecidos e reconhecidos são mais fáceis de ser controlados do que os sentimentos negados. E descobre-se ainda que que é possível reconhecer, afirmar e reforçar alguns sentimentos não domados da nossa infância, que é possível tornar-se, na meia-idade, mais compreensivo, mais sensual, mais ousado, mais eclético, mais honesto e mais criativo.
CITAÇÕES
1. A ausência congela o coração, não aumenta o amor.
2. A perda pode conviver conosco durante toda a nossa vida.
3. Perder é o preço que pagamos para viver.
4. Crescer significa estreitar a distância entre o sonho e as possibilidades.
5. Geralmente, enquanto o nosso intelecto reconhece a perda, o resto de nós continua tentando arduamente negar o fato.
6. Enfrentar a possibilidade de falhar como pai ou como mãe é outra perda necessária.
7. Deixar partir os filhos e abandonar os sonhos que se fizeram para eles é uma das perdas necessárias.
8. A má ressalva é que nenhum casal de adultos consegue causar tanto mal um ao outro quanto marido e mulher.
9. Ninguém deve ficar sozinho, nem no paraíso.
10. Amizades íntimas exigem indulgência e perdão das duas partes. Pessoas de caráter impecável, sem dúvida, não são indulgentes nem capazes de perdoar.
11. E quem não é capaz de morrer é capaz de viver?
12. Para crescer temos de renunciar a muita coisa. Pois não se pode amar profundamente alguma coisa sem se tornar vulnerável à perda.
A AUTORA
Da orelha do livro: Judith Viorst é autora dos grandes sucessos Controles Imperfeitos e Casamento para Toda a Vida, além do Best-seller Perdas Necessárias. É também uma bem-sucedida autora de poesias e livros infantis, com vinte e seis títulos publicados – grande parte deles traduzidos para o alemão, o francês, o espanhol, o holandês e o japonês. Nascida em Nova Jersey, nos Estados Unidos, formou-se no Washington Psycoanalystic Institute. Trabalhou como editora de livros infantis e como editora de uma revista científica até conhecer o seu marido, o escritor político Milton Viorst. Por seus textos de psicologia, Judith recebeu diversos prêmios jornalísticos.
A PUBLICAÇÃO
O livro Perdas Necessárias, de Judith Viorst, foi publicado no Brasil pela Editora Melhoramentos, no ano de 2005. O livro, dividido em quatro partes e 20 pequenos capítulos, tem 335 páginas, nenhuma ilustração. Não é prefaciado. Tem uma breve apresentação da autora. Originalmente, o livro foi publicado nos Estados Unidos em 1986 com o título Necessary Losses.
CIRCUNSTÂNCIAS
Os anos oitenta do século passado marcaram fortes novidades no campo dos livros. A literatura de biografias e depoimentos empresariais brilhou, com Lee Iacocca e Akio Morita abrindo uma estrada larga. E a eles se seguiram muitas obras de executivos e consultores. As publicações de autoajuda andaram em paralelo e depois explodiram em vendas no mundo todo. E nunca mais pararam. Importa notar que nem sempre o sucesso tem correlação direta com a qualidade e a consistência dos livros e autores. A
IMPORTANCIA DA OBRA
Os avanços na quantidade, na abrangência e na profundidade dos conhecimentos que a humanidade adquiriu e as conquistas tecnológicas colocadas à disposição de praticamente todos, ambos imensos, não produziram na mesma proporção um incremento na qualidade de vida das pessoas, do ponto de vista emocional. O desconforto psicológico atinge e maltrata as pessoas com frequência e dimensão aparentemente maiores.
O fato é que a vida de todas as pessoas, o livro mostra, está marcada pela dor, pela separação e pela perda. E a maioria das pessoas a elas reagem como se estivessem sendo surpreendidas, indevidamente atacadas por má sorte ou circunstâncias injustas. O livro mostra, fundamentalmente, que essas perdas são previsíveis, inevitáveis e necessárias. É uma abordagem original, com bom embasamento científico, com linguagem didática e acessível, na medida do possível, propondo uma nova forma de lidar com o vendaval de emoções que esses fatos costumam provocar.
Perdas é uma palavra chave na Psicologia. É um tema que está merecendo atenção e estudos aprofundados. Este livro foi um dos pioneiros que iluminou essa estrada.
O LIVRO
É grande o número de eventos que são absolutamente comuns a todas as pessoas que levem uma vida considerada normal. As dores, as separações e as perdas estarão presentes em momentos previsíveis, em circunstâncias tão comuns e banais, que já podem ser previstas, compreendidas e razoavelmente administradas.
A primeira perda acontece quando a pessoa nasce, ao separar-se do mundo perfeito do útero da mãe e dar de cara com um mundo estranho, agressivo, desafiador. Logo em seguida, ainda na infância, no âmbito sadio e saudável da família, outras perdas, dores e separações se seguirão e podem abalar o processo de formação.
O Complexo de Édipo, a disputa entre irmãos, a luta pela atenção dos pais, o desafio das primeiras aulas escolares, cada um desses eventos tem sua dimensão e significado. A autora avança e chega, depois de uma viagem com algumas paradas, ao envelhecimento e à morte, etapas igualmente inapeláveis.
O título e o tema do livro podem assustar, mas a leitura flui de maneira leve, graças à abordagem especialmente sensível da autora, conduzindo quase suavemente o leitor a um passeio informativo e orientador. Já nas primeiras páginas essa sensação desarma e relaxa o espírito de quem lê e prevalece até as últimas páginas, de onde você pode sair mais feliz do que entrou
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