Abriu a porta e viu uma pessoa amiga que há muito não via.
Estranhou que ele viesse acompanhado de um cão. Cão forte, saltitante e com ar agressivo.
Cumprimentou o amigo efusivamente.
- Quanto tempo!
- Quanto tempo – ecoou o outro.
O cão aproveitou a saudação e entrou casa adentro.
Logo um barulho na cozinha demonstrava que ele tinha virado qualquer coisa.
O dono da casa encompridou as orelhas.
O amigo visitante, porém, nada comentou.
- A última vez que nos vimos foi em... e a conversa continuava animada.
O cão passou pela sala, entrou no quarto, e novo barulho, desta vez de coisa quebrada.
Houve um sorriso amarelo do dono da casa, mas perfeita indiferença do visitante.
- Há um tempo atrás encontrei com... você se lembra dele?
O cão saltou sobre um móvel, derrubou um objecto, logo trepou as patas sujas no sofá e deixou a marca digital e indelével de seu crime.
Os dois amigos, tensos, agora fingiram não perceber, sem saber exactamente o que deviam fazer.
Por fim, o visitante despediu-se e já ia saindo quando o dono da casa perguntou:
- Não vai levar o seu cão?
- Cão? Ah, cão! Não é meu não.
Quando eu entrei, ele entrou comigo tão naturalmente que pensei que fosse seu.
Do livro: Histórias da Tradição Sufi - Editora Dervish
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domingo, 8 de dezembro de 2013
Saber valorizar-se
Álvaro trabalhava em uma empresa. Funcionário sério, dedicado, cumpridor de suas obrigações e, por isso mesmo está com seus 20 anos de casa. Um belo dia, ele vai ao dono da empresa para fazer uma reclamação:
- Meu patrão, tenho trabalhado durante esses 20 anos em sua empresa com toda a dedicação, só que me sinto um tanto injustiçado. O Luis, que está connosco há somente três anos, está ganhando mais do que eu.
O patrão, fingindo não ouvi-lo disse:
- Foi bom vir aqui. Tenho um problema para resolver e você poderá fazê-lo. Estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal após o almoço de hoje. Ali na esquina tem uma barraca. Vá até lá e verifique se eles têm Melão.
Álvaro, sem entender direito, saiu da sala e foi cumprir a missão. Em cinco minutos estava de volta.
- E aí Álvaro? Perguntou o patrão.
- Verifiquei como o senhor mandou, se o moço tem Melão.
- E quanto custa?
- Isso eu não perguntei, não.
- Eles têm quantidade suficiente para atender a todos os funcionários do escritório? Quis saber o patrão.
- Também não perguntei isso, não.
- Há alguma outra fruta que possa substituir o Melão?
- Não sei não...Muito bem, Álvaro. Sente-se ali naquela cadeira e aguarde um pouco.
O patrão pegou o telefone e mandou chamar o Luis. Deu a ele a mesma orientação que dera ao Álvaro. Em poucos minutos, o Luis voltou.
- E então, Luis? Indagou o patrão.
- Eles têm Melão sim. Em quantidade suficiente para todo o nosso pessoal. E se senhor preferir, têm também laranja, banana, maçã e mamão a 1€ o quilo, o melão a 1,20€ a unidade, e a laranja a 20€ o cento, já descascadas. Mas como eu disse que a compra seria em grande quantidade, eles me concederam um desconto de 15%. Deixei reservado. Conforme o senhor decidir, volto lá e confirmo, explicou o Luis.
Agradecendo pelas informações, o patrão dispensou-o. Voltou-se para o Álvaro, que permaneceu sentado ao seu lado, e perguntou-lhe:
- Álvaro, o que foi que você estava mesmo me dizendo?
- Nada sério não, patrão. Esqueça, com sua licença.
E o Álvaro deixou a sala.
sábado, 7 de dezembro de 2013
A forma como se diz as coisas
Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes.
Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.
- Que desgraça, senhor! - exclamou o adivinho
- Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.
- Mas que insolente - gritou o sultão, enfurecido
- Como te atreves a dizer-me semelhante coisa?
Fora daqui!
Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem chicotadas.
Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho.
Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:
- Excelente senhor!
Grande felicidade vos está reservada.
O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.
A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho.
E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:
- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito.
Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem chicotadas e a você com cem moedas de ouro.
- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho - que tudo depende da maneira de dizer.
Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se.
Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.
Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida.
Mas a forma como ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas.
A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa.
Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta.
Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.
A embalagem, nesse caso, é a indulgência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos.
Ademais, será sábio de nossa parte, antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dizê-la a nós mesmos diante do espelho.
E, conforme seja a nossa reação, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento.
Importante mesmo, é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas.
Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.
- Que desgraça, senhor! - exclamou o adivinho
- Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.
- Mas que insolente - gritou o sultão, enfurecido
- Como te atreves a dizer-me semelhante coisa?
Fora daqui!
Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem chicotadas.
Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho.
Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:
- Excelente senhor!
Grande felicidade vos está reservada.
O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.
A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho.
E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:
- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito.
Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem chicotadas e a você com cem moedas de ouro.
- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho - que tudo depende da maneira de dizer.
Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se.
Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.
Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida.
Mas a forma como ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas.
A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa.
Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta.
Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.
A embalagem, nesse caso, é a indulgência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos.
Ademais, será sábio de nossa parte, antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dizê-la a nós mesmos diante do espelho.
E, conforme seja a nossa reação, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento.
Importante mesmo, é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Resolução de conflitos
Resolução de Conflitos
O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa tarde de primavera. Nosso vagão estava comparativamente vazio: apenas algumas donas de casa com seus filhos e uns velhos indo fazer compras. Eu olhava distraído pela janela a monotonia das casas sempre iguais e das sebes cobertas de poeira.
Chegando a uma estação, as portas se abriram e, de repente, a quietude da tarde foi rompida por um homem que entrou cambaleando no nosso vagão, gritando com violência imprecações incompreensíveis. Era um homem forte, encorpado, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo. Aos berros, esbofeteou uma mulher que carregava um bebezinho. A força do tapa fez com que ela fosse cair no colo de um casal idoso. Só por um milagre nada aconteceu ao bebê.
Aterrorizado, o casal deu um pulo e fugiu correndo para a outra extremidade do vagão. O operário tentou ainda dar um pontapé na velha, mas errou a mira e ela conseguiu escapar. Isso o deixou em tal estado de fúria que agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la do balaústre. Pude ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava. O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo. Eu me levantei.
Na época, cerca de vinte anos atrás, eu era jovem e estava em excelente forma física. Vinha treinando oito horas de Aikidô quase todos os dias há quase três anos. Gostava de lutar corpo a corpo e me considerava bom de briga. O problema é que minhas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Nós, alunos de Aikidô somos proibidos de lutar.
"Aikido", - meu mestre não cansava de repetir, "é a arte da reconciliação. Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o Universo. Se tentarem dominar as pessoas, estarão derrotados de antemão. Nós estudamos como resolver conflitos, não como iniciá-los."
Eu ouvia essas palavras e me esforçava. Chegava a atravessar a rua para evitar os arruaceiros, os pungas dos videogames que costumam vadiar perto das estações de trem. Ficava exaltado com minha própria tolerância e me considerava um valentão reverente, piedoso mesmo. No fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade absolutamente legítima em que pudesse salvar os inocentes destruindo os culpados.
- Chegou o dia! - pensei comigo mesmo enquanto me levantava. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo.
Quando me viu levantando, o bêbado percebeu a chance de canalizar a sua ira.
- Ah! - rugiu ele. – Um estrangeiro! Você está precisando de uma lição em boas maneiras japonesas!
Eu estava de pé, segurando de leve nas alças presas ao teto do vagão, e lancei-lhe um olhar de nojo e desprezo. Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele me agredisse primeiro. Queria que ficasse com raiva, por isso curvei os lábios e mandei-lhe um beijo insolente.
- Agora chega! – gritou ele. – Você vai levar uma lição. – E se preparou para me atacar.
Mas uma fração de segundo antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um berro:
- Ei!
Foi um grito estridente, mas lembro-me que tinha um estranho timbre, jubiloso e cadenciado, como quando estamos procurando alguma coisa junto com um amigo e ele subitamente a encontra: "Ei!"
Virei para a esquerda, o bêbado para a direita. Nós dois olhamos para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos. Esse minúsculo senhor devia ter bem mais de setenta anos, e vestia um quimono impecável. Não me deu a menor atenção, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importantíssimo e delicioso segredo para lhe contar.
- Venha aqui – disse o velhinho num tom coloquial e amistoso. – Vem aqui conversar comigo – insistiu, chamando-o com um aceno de mão.
O homenzarrão obedeceu, mas postou os pés beligerantemente diante dele e gritou por cima do barulho das rodas nos trilhos:
- Por que diabos vou conversar com você?
Ele agora estava de costas para mim. Se o seu cotovelo se movesse um milímetro que fosse eu o esmagaria. Mas o velhinho continuou sorrindo para o operário.
- O que você andou bebendo? – perguntou com os olhos brilhando de interesse.
- Saquê – rosnou de volta o operário – e não é da sua conta! – completou, lançando perdigotos no rosto do velho.
- Que ótimo – retrucou o velho. – Excelente mesmo. Eu também adoro saquê! Todas as noites, eu e minha esposa aquecemos uma garrafinha de saquê e vamos até o jardim nos sentar num velho banco de madeira. Ficamos olhando o pôr-do-sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro. Foi meu bisavô quem plantou essa árvore, e estávamos preocupados achando que ela não fosse se recuperar das tempestades de gelo do último inverno. Mas a nossa arvorezinha saiu-se melhor do que esperávamos, ainda mais se considerarmos a má qualidade do solo. É gratificante olhar para ela quando levamos uma garrafinha de saquê para apreciar o final da tarde, mesmo quando chove!
E olhava para o operário, seus olhos reluzentes. O rosto do operário, que se esforçava para acompanhar a conversa do velhinho, foi se abrandando e seus punhos pouco a pouco relaxando.
- É, é bom. Eu também gosto de caqui... – mas sua voz acabou num sumiço.
- São deliciosos – concordou o velho sorrindo. – E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.
- Não – retrucou o operário. – Minha esposa morreu.
Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.
- Eu não tenho esposa, eu não tenho casa, eu não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto; um frêmito de desespero percorreu-lhe o corpo.
Chegara a minha vez. Lá estava eu, com toda a minha imaculada inocência juvenil, com toda a minha vontade de tornar o mundo um lugar melhor para se viver, sentindo-me de repente mais sujo do que ele.
O trem chegou à minha estação. Enquanto as portas se abriam, ouvi o velho dizer solidariamente:
- Minha nossa, que desgraça. Sente-se aqui comigo e me diga o que houve.
Voltei-me para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco, a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos.
Enquanto o trem se afastava, sentei-me num banco da estação. O que eu pretendera resolver pela força fora alcançado com algumas palavras meigas. Eu acabara de presenciar o Aikido num combate de verdade, e a sua essência era o Amor. A partir de agora teria que praticar a arte com um espírito totalmente diferente. Muito tempo passaria antes que eu voltasse a falar sobre a resolução de conflitos.
História de Terry Dobson
Extraído do livro: Histórias da Alma: Histórias do Coração - Christina Feldman & Jack Kornfield
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Livro: EU SOU MALALA
Quando o Talibã tomou controle do vale do Swat, uma menina levantou a voz.
Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação.
Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida.
Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria.
Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York.
Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz.
Eu sou Malala é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens.
O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã.
Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, este livro é uma janela para a singularidade poderosa de uma menina cheia de brio e talento, mas também para um universo religioso e cultural cheio de interdições e particularidades, muitas vezes incompreendido pelo Ocidente.
“Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”, ela diz numa das últimas passagens do livro. A história de Malala renova a crença na capacidade de uma pessoa de inspirar e modificar o mundo.
Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação.
Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida.
Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria.
Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York.
Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz.
Eu sou Malala é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens.
O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã.
Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, este livro é uma janela para a singularidade poderosa de uma menina cheia de brio e talento, mas também para um universo religioso e cultural cheio de interdições e particularidades, muitas vezes incompreendido pelo Ocidente.
“Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”, ela diz numa das últimas passagens do livro. A história de Malala renova a crença na capacidade de uma pessoa de inspirar e modificar o mundo.
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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
A Lente
A LENTE
Quando eu era menino me chamavam de "o fogo-de-palha".
Estava sempre com um plano novo na cabeça e falava entusiasticamente sobre o meu novo plano com a minha família.
Imediatamente a seguir, começava a tarefa, porém logo me sentia desanimado e a largava desinteressado.
E, logo uma outra ideia magnífica surgia dentro de meu cérebro iluminado, para ter o fim de sempre.
Embora o facto se repetisse constantemente, não havia, em minha casa, comentários a respeito. Parecia um processo de negação de realidade. Todo mundo sabia, mas todo mundo fingia que eu não era assim.
Um certo dia de verão, meu avô, que lia o jornal na varanda, chamou-me. Estava com uma lente na mão e me disse:
- Preste atenção e irá ver uma coisa muito interessante. É uma experiência...
Com o sol incidindo na lente, passeava com o foco de luz pela folha do jornal, porém nada acontecia de diferente. Eu estava intrigado. Fiquei mesmo a espera de que algo interessante acontecesse.
Diante da minha frustração, da espera por ver algo interessante e nada acontecer, ele finalmente deteve o movimento. Parou totalmente o movimento e manteve o ponto da luz solar imóvel por algum tempo, focalizando os raios solares no mesmo sítio. Dentro de poucos segundos o papel se incendiou e surgiu ali um furo.
Escusado é dizer que aquilo me fascinou, mas não entendi logo o significado da experiência. Então meu avô me explicou:
- Meu filho, este princípio se aplica a tudo que fazemos. Para alcançarmos qualquer êxito na vida é indispensável concentrar todos os nossos esforços na tarefa do momento. É como a concentração dos raios do sol filtrados pela lente.
Enquanto a lente percorreu às tontas a folha do jornal nada aconteceu. Mas quando se deteve e concentrou toda a energia dos raios solares, você viu o furo que a lente foi capaz de produzir.
Tudo é questão de paciência, tempo e concentração.
Desse incidente me recordei inúmeras vezes em minha vida, o que me deu sempre muita coragem para perseverar até o fim.
RODRIGUES, Wallace Leal V., in:___ "E, Para o Resto da Vida", ed. O Clarim.
domingo, 1 de dezembro de 2013
Porto de Luz
No dia 08/12/13, às 14:00, o Porto de Luz estará oficialmente aberto. Vamos compartilhar histórias, sonhos, vivências e tudo que for luz, verdade e amor. Você é muito importante para estar junto, vibrando na mais alta frequência conosco!
Vamos sortear Leituras de Aura, Sessões de Cura Prânica, Reiki, Cristalo Terapia.
Teremos Danças Circulares, rodadas de Beija-Flor, Pizza do Amor, e muitos sonhos para contar.
Venha para cá!
PORTO DE LUZ é um sonho materializado de Carmem Castro e Lúcia Falabella, que em 2013 tomaram coragem para dar um salto ouvindo sua intuição. Permitiram que os anjos as guiassem.
O que vai acontecer, será contado depois na história desta casa.
Ilha da Pesquisa, casa 2, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Domingo, 8 de dezembro de 2013 as 14horas
leia mais em https://www.facebook.com/events/176205182579191/ e veja as fotografias
https://www.facebook.com/portodeluzrj?fref=ts
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Reflexão sobre extremos
Reflexão sobre extremos:
Uma das possíveis variações de uma velha história sobre a origem do assado é o seguinte:
Certa vez aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosa a carne assada. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque...até que descobriram um novo método.
Mas o que quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA para implantar um novo.
Fazia tempo que as coisas não iam lá muito bem; às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus.
O processo preocupava muito a todos, porque se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes – milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também milhões os que se ocupavam com a tarefa de assá-los. Portanto, o SISTEMA simplesmente não podia falhar. Mas, curiosamente, quanto mais crescia a escala do processo, tanto mais parecia falhar e tanto maiores eram as perdas causadas.
Em razão das inúmeras deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a necessidade de reformar profundamente o SISTEMA. Congressos, Seminários, Conferências passaram a ser realizadas anualmente para buscar uma solução. Mas parece que não acertavam o melhoramento do mecanismo.
Assim, no ano seguinte repetiam-se os congressos, seminários, conferências. As causas do fracasso do SISTEMA, segundo os especialistas, eram atribuídas à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou ainda às árvores, excessivamente verdes, ou à humidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas...
As causas eram, como se vê, difíceis de determinar – na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo.
Fora montada uma grande estrutura: maquinaria diversificada; indivíduos dedicados exclusivamente a acender o fogo – Queimadores que eram também especializados da Zona Sul, da Zona Oeste, etc..., queimadores nocturnos e diurnos – com especialização em matutino e vespertino – queimador de verão, de Inverno, etc...
Havia especialistas também em ventos – os anemotécnicos. Havia um Director Geral de Assamento e Alimentação Assada, um Director de Técnicas Ígneas ( com seu Conselho Geral de Assessores ), um Administrador Geral de Reflorestamento, uma Comissão Nacional de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias ISCUTA) e o Bureau Orientador de Reformas Igneooperativas.
Havia sido projectada e encontrava-se em plena actividade a formação de bosques e selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação - utilizando-se regiões de baixa humidade e onde os ventos não soprariam mais que três horas seguidas.
Eram milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes, fogo mais potente, etc...
Havia grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno. Foram formados professores especializados na construção dessas instalações.
Pesquisadores trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para porcos; fundações apoiavam os pesquisadores que trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para porcos, etc...
As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os porcos 15 minutos antes que o incêndio médio da floresta atingisse 47 graus, posicionar ventiladores-gigantes em direcção oposta à do vento, de forma a direccionar o fogo, etc.... Não é preciso dizer que poucos especialistas estavam de acordo entre si, e que cada um embasava suas ideias em dados e pesquisas específicos.
Um dia um queimador categoria AB/SODM-VCH ( ou seja, um acendedor de bosques especializado em sudoeste diurno, matutino, com bacharelado em verão chuvoso ), chamado João Bom-Senso, resolveu dizer que o problema era muito fácil de ser resolvido, bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o então sobre uma armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor - e não as chamas - assasse a carne.
Tendo sido informado sobre as ideias do funcionário, o Director Geral de Assamento mandou chamá-lo ao seu gabinete, e depois de ouvi-lo pacientemente, disse-lhe:
-Tudo o que o senhor disse está muito bem, mas não funciona na prática.
O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar sua teoria ? Onde seria empregado todo o conhecimento dos acendedores de diversas especialidades ?
- Não sei - disse João.
- E os especialistas em sementes ? Em árvores importadas para porcos, com suas máquinas purificadoras automáticas de ar ?
- Não sei.
- E os anemotécnicos que levaram anos especializando-se no exterior, e cuja formação custou tanto dinheiro ao país ? Vou mandá-los limpar os porquinhos. E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos ? Que faço com eles, se a sua solução resolver tudo ?
- Heim ?
- O senhor percebe agora que a sua ideia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos ?
O senhor não vê que se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo atrás? O senhor com certeza compreende que não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas, sem chamas! O que o senhor espera que eu faça com os quilómetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos nem têm folhas para dar sombra ?
Vamos , diga-me !
- Não sei, não senhor.
- Diga-me, nossos três engenheiros em Porcopirotecnia, o senhor não considera que sejam personalidades científicas do mais extraordinário valor ?
- Sim , parece que sim.
- Pois então. O simples facto de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso sistema é muito bom. O que eu faria com indivíduos tão importantes para o país ?
- Não sei.
- Viu ? O senhor tem que trazer soluções para certos problemas específicos por exemplo, como melhorar as anemotécnicas actualmente utilizadas, como obter mais rapidamente acendedores de Oeste (nossa maior carência ) como construir instalações para porcos com mais de sete andares. Temos que melhorar o sistema e não transformá-lo radicalmente, o senhor entende ?
Ao senhor, falta sensatez!
- Realmente estou perplexo ! - respondeu João.
- Bem , agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Agora , entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua ideia - isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo. Não por mim, o senhor entende?
Eu falo isso para o seu próprio bem, porque eu o compreendo, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo, não é mesmo ?
João Bom-Senso, coitado, não falou mais um "A" . Sem despedir-se, meio atordoado, meio assustado com sua sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu de fininho e ninguém nunca mais o viu.
Por isso é que até hoje se diz, quando há reuniões de Reforma e Melhoramentos que falta o Bom-Senso."
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