...tenha em mente que Ser feliz se passa no futuro — no futuro próximo. Ah, digamos, daqui a dez minutos...
O mundo estava carregado
de pessoas insatisfeitas, frustradas e complexadas correndo de um lado para o
outro em existências vazias e sem sentido. Picaretas prometiam soluções
milagrosas, loções contra a calvície, dietas revolucionárias, Coca-Cola diet
realmente sem açúcar. Mesmo que nunca nenhum deles cumprisse a promessa, continuavam
vendendo livros, vídeos, manuais, frases feitas para serem coladas na
geladeira, etc.
Tudo mudou quando um
manual de auto-ajuda que realmente funcionava surgiu. Ele prometia que as
pessoas parariam de fumar só de ler suas páginas. E as pessoas paravam.
Prometia que ninguém mais beberia ou consumiria drogas. E isso realmente
aconteceu.
Os resultados foram
catastróficos: as indústrias de fumo, de álcool, os traficantes e as
instituições de recuperação, isto é, os pilares da civilização contemporânea,
começaram a definhar e falir.
Pior: a industria da moda foi à bancarrota, pois
todo mundo começou a compreender que precisava se preocupar com o seu interior
e não com a aparência; fábricas de produtos artificiais carregados de
colesterol e elementos cancerígenos desapareceram, dando lugar para a
agricultura de produtos naturais e saudáveis. E, em toda parte, no planeta
inteiro, ninguém mais brigava, discutia ou xingava no trânsito: só ficavam
dando-se abraços e votos de felicidade, pois todos eram felizes, felizes,
felizes!
Em outras palavras, era o
fim do mundo.
O culpado por tudo isso
foi Edwin De Valu, editor da Panderic Books Incorporated. Edwin odiava seu
chefe -obviamente, odiava os colegas e odiava seu trabalho, tinha um caso
mal-resolvido com a rechonchuda e sexy May e era casado com Jenni, que havia
sido chefe de torcida na escola e que nunca teria olhado para ele se tivessem
se conhecido em outra época.
Por uma série de
circunstâncias, principalmente a incompetência de Edwin e a estupidez de seu
chefe, ele acabou publicando "O Que Aprendi na Montanha", de um cara
chamado Tupak Soiree.
O livro tem
mais de mil páginas, um apanhado total de todos os manuais de auto-ajuda que já
surgiram na face da terra. E que realmente funciona, etc e tal.
Este é
um livro sobre o fim do mundo e, como tal, envolve livros de receitas
dietéticas, gurus do ramo da auto-ajuda, condenados rastejando por canos
de esgoto, editores com excesso de trabalho, o colapso econômico dos
Estados Unidos e a expansão do cultivo de alfafa. E acho que, a certa
altura, uma das personagens também perde um dedo. Esta é a história de
um apocalipse: Apocalipse Legal. Fala de uma devastadora peste de
felicidade humana, de uma epidemia de abraços sonsos e calorosos, e de
um trailer misterioso na orla de um deserto...
"Ser Feliz" é
uma sátira arrasadora e definitiva da indústria de auto-ajuda. Engraçado,
envolvente, divertido e emocionante, um fantástico jorro de bom humor como há
muito tempo não se via. Mas é lógico que sua ironia cáustica e corrosiva não se
limita a fazer piadinhas sobre os pauloscoelhos ou zibiasgasparettos
norte-americanos. Ao descer a lenha neste segmento "cultural",
Ferguson realiza uma autêntica lavagem de alma em toda a nossa vida
moderna.
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