Uma máquina de aparência humana fará sua primeira aparição em terras tupiniquins neste sábado, em São Paulo. Não é publicidade de nenhum remake do filme Blade Runner; trata-se de uma demonstração de um robô humanóide "livre" desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Unesp e do ITA e montado na área de Robótica da Campus Party Brasil.
O projeto levou quatro meses para ser idealizado, e o protótipo começou a ser construído há duas semanas, segundo o coordenador da Robótica do evento, Alexandre Simões, professor de Robótica e Inteligência Artificial da Unesp. O custo da empreitada, nem ele soube dizer, já que o material para a construção do robô - alumínio, resina e motores - foi bancado pela organização do evento de tecnologia.
Segundo Simões, este é o primeiro robô deste tipo no Brasil construído com arquitetura aberta - o que em linguagem de computação seria chamado de "open source". Além de ser controlado pelo sistema operacional aberto Linux, o projeto disponibiliza as especificações de mecânica, elétrica e computação na internet para que possam ser baixadas e melhoradas por outras pessoas, que também podem submeter conteúdos novos. O objetivo é possibilitar a troca de conhecimentos e o trabalho colaborativo no desenvolvimento do "robô livre".
Vários campuseiros deram contribuições para aprimorar o projeto. A mão, por exemplo, foi escolhida em um concurso promovido durante a Campus Party Brasil.
Busca por know-how
Há um objetivo mais sério por trás da brincadeira: que, em algum momento, o Brasil fabrique humanóides, como hoje acontece em outros países. "Hoje, os fabricantes destes robôs são grandes empresas. O Brasil precisa desenvolver tecnologia nesse sentido, para não precisar importar", explica o coordenador da Robótica.
Simões prevê que em 10 anos a robótica será uma das cinco maiores áreas de pesquisa no mundo, e que se o Brasil não começar a investir nesse campo, pode perder seus talentos para outros países.
Equipe multidisciplinar
Um aspecto que chama a atenção no projeto é a mistura de profissionais de diferentes áreas que trabalham na construção do robô - mecânica, elétrica e computação se juntam ao design, e até um artista plástico participou da criação do corpo do humanóide.
Senhoras e senhores, conheçam o CP01
O robô CP01 é do tamanho aproximado de uma pessoa e tem diversos sensores e uma câmera na cabeça que detecta rostos de pessoas que estejam olhando para ele. Simões diz que ele também será capaz de ler cartazes, por exemplo.
A idéia de robô livre levou à criação de módulos independentes. Por exemplo, a cabeça tem seu próprio computador de bordo e funcionará da mesma forma se for usada em outro corpo de robô, porque não depende de outras partes do original.
O humanóide apresentado neste sábado terá só a parte superior do corpo, ou seja, sem pernas, e não funcionará com inteligência artificial. Segundo Simões, este é um projeto de longo prazo, que pode levar uma década para ser concluído.
Sem paredes
Desde o começo do evento, a equipe do robô livre está trabalhando em um espaço aberto na área de robótica, que permite que os campuseiros observem o processo e interajam com os pesquisadores.
A equipe também trouxe vários robôs comerciais fabricados por empresas de todo o mundo, como o Aibo, o i-Sobot e o dinossauro Pleo, que responde ao toque demonstrando emoções. O objetivo é divulgar a robótica e mostrar que essa área tem evoluído para algo mais humano e doméstico. "Muita gente ainda pensa em robôs como aquelas máquinas enormes usadas na indústria automotiva", afirma Simões.
Segundo o coordenador do projeto, o retorno tem sido extremamente positivo. "O público dessa área pode não ser o maior, mas é certamente um dos mais engajados", observa, destacando a importância do evento para o desenvolvimento do robô livre. "A Campus Party deu asas ao projeto".
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