Sou favorável aos protestos pacíficos. Uma liberdade de expressão onde se respeita os direitos do outro e não se provoca danos sociais, apenas abrimos portas para reflexão.
Cem pessoas deitaram-se no Rossio por uma “democracia verdadeira”
A iniciativa, promovida pelo movimento “Democracia Verdadeira Já!” de Lisboa, surge depois de 12 dias de acampamento no Rossio e de várias assembleias, reuniões e acções nos dias seguintes, e que culminaram com uma carga policial e a detenção de dois activistas no sábado passado.
“A primeira coisa que nos mobilizou foi a repressão que houve aqui no Rossio, onde a polícia, ilegalmente, deitou ao chão muitas pessoas que, pacificamente e sem cometer nenhuma ilegalidade, pretendiam apenas debater os problemas das suas vidas e pensar novas formas de activismo”, disse ao PÚBLICO Renato, de 31 anos, um dos membros do movimento, confirmando que vão mesmo avançar com um processo judicial contra os agentes policiais que carregaram há uma semana sobre os manifestantes.
Madalena, de 33 anos, levou uma bastonada da polícia e fez questão de participar no protesto de hoje. “Estou aqui na continuação do protesto contra a democracia falsa em que vivemos”, disse ao PÚBLICO esta jovem desempregada, que lamenta ainda o facto de o país continuar no sofá. “Custa bastante ver que, numa crise tão forte como a que estamos a viver, o país continua muito calado no sofá. Acabamos por ser poucos a fazer uma luta de todos.”
Defendendo que o país “está a precisar não de uma, mas de várias revoluções”, Madalena diz estar disposta a ir “até onde for preciso”. “Não tenho um limite. É preciso que o medo nos dê coragem”, dizia com um sorriso nos lábios.
Já Alexandra, de 37 anos, vai “até onde o bom senso e as circunstâncias o exigirem”. Tem consciência de que a iniciativa de hoje, “por si só, não vai mover a sociedade toda”, mas acredita que “pode ser o início de um acordar de consciências”. “Estou aqui para me manifestar pacificamente contra a injustiça que existe em muitas áreas”, diz, confessando que é a primeira vez, desde a guerra das propinas na década de 1990, que decidiu “voltar a esforçar-se e a levantar a voz”.
Envergando um cartaz a reclamar “mais amor na política”, Inês está no movimento desde o princípio e garante que ali vai ficar enquanto continuar a “sentir que as acções fazem sentido e que as pessoas mudam”. “A iniciativa de hoje é uma forma metafórica de protestar contra a democracia que temos. Estamos cansados”, explica esta jovem de 23 anos. “Quero mais amor na política, pois para mim o amor é haver mais comunicação e justiça entre as pessoas. São dois conceitos muito próximos e, quando eles forem a mesma coisa, a sociedade será uma boa sociedade. É um bocado utópico, mas todas as crenças têm de ser um bocado utópicas”, justifica.
Renato acredita que a dinâmica dos protestos “vai naturalmente crescer”. “Tenho a história do meu lado. E, ao contrário do que nos pregavam nos anos 90, em que diziam que a ideologia estava morta, há muitas coisas a acontecer e, se há sítios onde o bater das asas da borboleta se nota, é no movimento social”, afirma este ex-estudante da Faculdade de Letras, depois de lembrar o que se passou no Egipto. “As coisas que vão acontecendo ajudam a reforçar esta dinâmica”, acrescenta.
A iniciativa de hoje contou com a participação solidária de Alberto, um espanhol de 22 anos que está em Lisboa desde Setembro de 2010 a estudar Biologia. “Estou aqui a lutar pela democracia verdadeira, que falta em toda a Europa”, diz. Alberto não tem dúvidas de que “a situação em Portugal é bastante parecida com Espanha e ao resto dos países mediterrâneos”.
As assembleias populares vão continuar e o movimento apela desde já à participação de “todos os indignados” na manifestação internacional do dia 19, que irá começar em frente ao Cinema São Jorge, em Lisboa.
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