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domingo, 23 de novembro de 2008

Psicologia e o jogador de futebol


Aprecio futebol através dos meus filhos. Torço junto com eles. Torço pelo Brasil e torço por Portugal. Somos luso-brasileiros. Torço por quem merecer ganhar, pelo que for mais justo. Não consigo ser torcedora sem observar as reacções emocionais dos jogadores. Evidencio a extrema utilidade da actuação de um profissional da psicologia para oferecer aos atletas recursos adequados para que eles lidem satisfatoriamente com as dificuldades de sua vida pessoal e profissional. Os nossos jogadores precisam mais do que um alto nível de treinamentos físicos, técnicos e tácticos, eles precisam estar bem preparados psicologicamente.

Necessitamos sensibilizar os dirigentes de que dar recursos psicológicos é tão importante quanto dar uma alimentação balanceada aos jogadores. Corpo e mente funcionam juntos e merecem igual atenção. Cuidar do corpo significa também da mente onde habitam as emoções e acontecem as evoluções, involuções e revoluções do pensar e do sentir.

Grande parte dos profissionais do ténis, do vôlei e da natação são mais receptivos a este trabalho. Neste momento estou trabalhando com uma jovem de 13 anos, que até a temporada anterior apresentava os melhores tempos na piscina. Por motivos emocionais reduziu os resultados e agora estamos a trabalhar para recuperar a sua garra e os seus motivos para acção.

Ela teve o privilégio durante dois anos de ter o mesmo treinador, que além de um profundo conhecimento de técnicas para melhorar o rendimento da jovem, também exercia um papel de psicólogo e de seu motivador. Os treinos aconteciam sempre num clima de grande entusiasmo, motivação e muita crença do treinador na capacidade da jovem.

Lembra com carinho e destaca que ele ficava em pé, andando em volta da piscina e dar incentivo, a fazer correcções em tempo real. Ele vibrava com os resultados dela. Qualquer dificuldade que ela sentia, sabia que podia contar com ele. Era mesmo um confidente. Agora ela trocou de treinador e o que ela me relatou no nosso primeiro encontro foi: "ele é frio e distante, só pensa em números, assiste o treino sentado na cadeira, sem a menor emoção na voz ou nos olhos".

Actualmente ela tem encontros comigo para substituir o lado de "psicólogo" do seu antigo treinador.

Emoção e razão também estão presente no futebol, um psicólogo poderia somar as suas forças com as de outros profissionais igualmente importantes para o bom desempenho da equipa.

Sempre que fui procurada pelos jogadores de futebol que foram meus clientes de consultório, vieram por conta própria e, a maioria relatava que no clube não sabiam que ele tinha procurado ajuda, como se isto fosse um sinal de fragilidade.

Cada jogador é um ser humano único com o seu universo particular com poucas ou muitas oscilações, dúvidas e conflitos que determinam o seu comportamento. Esse ser humano único, na profissão de jogador de futebol enfrenta problemas básicos diante dos quais nem sempre sabe se posicionar.

A actuação do Psicólogo poderia incluir dinâmicas de grupo, acompanhamento individual, palestras de sensibilização, visualização de vídeos, estudos de caso e em especial ensinar muitas estratégias para a gestão das emoções.

Deixo aqui uma reflexão sobre algumas das dificuldades que os jogadores de futebol podem conviver com elas.

Além da reflexão, convido o leitor a lembrar dessa reflexão sempre que assistir aos comentários sobre um jogo de futebol, sobre os julgamentos que as pessoas fazem a respeito dos jogadores, em especial quando cometem falhas.

Geralmente são obrigados a abrir mão de uma vida familiar tradicional.

Algum distanciamento do mundo interior e também da família e dos amigos devido à dedicação exigida pela grande carga de treinamentos.

O Sonho de alcançar o sucesso e as dificuldades para atingir esse sucesso muito rapidamente, visto que a carreira deles é muito curta e, depois que sentir o cheirinho do sucesso deve saber conviver com a fama, aclamação e logo a seguir a possibilidade de críticas muito severas. O máximo e o mínimo num espaço muito curto de tempo.

Precisam aprender que o sucesso nunca é garantido, mas o fracasso nunca é definitivo. E no futebol, mais do que em outras profissões em que o profissional se torna figura pública, o sucesso tem feito o fracasso de muitos homens. Há muito que se pode analisar nestas situações.

Geralmente isso acontece no meio de um luto pela adolescência (algumas vezes abandonada e não vivenciada) que é um rito de passagem caracterizado por um período de experiências definitivas. O abandona acontece em benefício da carreira promissora, na busca do sucesso.

Dificuldades decorrentes de mudanças de país, exigindo adaptação à novos idiomas, clima e hábitos estrangeiros temporários ou por um determinado período

A Inteligência Intrapessoal poderia facilitar o comportamento do jogador frente às pressões exercidas pelos adeptos, pela imprensa nacional e internacional e pelos patrocinadores.

Também deveriam aprender a fazer bom uso de sentimentos positivos e participar das competições sentindo-se confiante e tranquilo, favorecendo que seja capaz de lidar com a exigência ou cobrança de resultados que, para alguns jogadores significa um obstáculo a mais dentro do conjunto de dificuldades às quais ele se sente submetido.

Também desenvolver a capacidade de concentrar-se, manter o FOCO, motivar-se para os resultados.

Ganhar recursos para gerir relacionamentos dentro do grupo, desentendimentos, acusações e divergências de ideias tão comuns na rotina de uma equipa de futebol. E não há dúvida que o efeito cumulativo desses factores afecta negativamente o rendimento do grupo.

Aprender a abstrair-se da influência dos resultados de se jogar "fora" ou em "casa", sabendo-se que os campos têm dimensões que não variam muito e o número de jogadores é exactamente o mesmo (excepto quando são expulsos), portanto, claramente são os factores psicológicos que influenciam, são as crenças de cada equipa.

Um jogo de futebol entre duas nações serve também para auscultar a psicologia dos povos e a forma como cada um projecta a sua identidade colectiva. Por isso, jogos contra países que julgamos acima de nós no futebol são sempre momentos delicados.

Uma equipa pode ser um factor desencadeador de stress nos jogadores da equipa contrária. Há jogadores que precisam estar bem psicologicamente, serenos e confiantes para fazer um bom jogo e, há outros que conseguem dar o seu melhor quando estão sob pressão.

A cada novo jogo, uma quantidade de emoções são mobilizadas e, essas emoções não elaboradas tendem a se acumular provocando actos impensados que podem prejudicar a imagem e a performance do próprio jogador e do grupo. Sabemos que o Cristiano Ronaldo é um excelente jogador, muito motivado, com garra e demonstra que sabe manter o foco. No entanto, no jogo do dia 19 de Novembro, em Brasília, o Cristiano foi influenciado pelo seu estado interior. Demonstra ser do tipo que necessita estar sereno e autoconfiante para desempenhar uma excelente exibição com os pés na bola. O seu comportamento estava influenciado pelo seu estado interior e o cartão amarelo que recebeu após o desentendimento com Marcelo, contribuiu para que ele não conseguisse recuperar o seu controlo emocional. A inteligência Emocional defende que tudo que se conhece pode ser controlado.

Mesmo que o próprio Cristiano Ronaldo não estivesse preocupado com a presença em campo o actual melhor jogador do mundo, Kaká, e que ele, Cristiano é o candidato mais forte para ganhar este ano o prêmio da Fifa, só o facto de torcedores, jornalistas, repórteres e provavelmente a envolvente emocional daquele jogo, podem ter influenciado negativamente o Cristiano.

Assim, a grande contribuição do psicólogo neste caso seria auxiliar o jogador na percepção de sua realidade e na tentativa de compreender a eventual problemática emocional, alertando-o sobre uma série de outros factores externos que não poderiam ser aceites por ele como um dado real. Se é um factor externo, ele só aceita se de facto encontra eco dentro de si, caso contrário, não deve contaminar-se com esses factores.

Alguns dirigentes não sabem que atitude tomar para ajudar um jogador que, eventualmente, demonstre dificuldades de actuação.

Agora que temos a Ordem dos psicólogos em Portugal poderíamos começar a mostrar a utilidade da nossa profissão aos clubes de futebol.

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