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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O nosso eco

Recebi hoje de um amigo e tenho certeza que vocês vão adorar o texto!!!

Há algum tempo dei comigo a pensar que no caminho da vida a circunstância – a “minha circunstância” de que falava o filósofo espanhol – nos traz ao convívio três tipos de pessoas. O mais abundante é o daqueles que passam por nós sem deixar rastro, encontros demasiado fugazes ou superficiais.

O segundo, cujo número, mesmo que escasso, é sempre excessivo, inclui aqueles que nos diminuem, ou porque nos roubam o que demais precioso temos, o tempo (e devo confessar que quando me pedem licença para mo roubarem eu digo sempre que não deixo, porque o meu tempo ou o ofereço ou, em situação própria, o vendo), ou porque levam parte de nós, deixando na alma ferida que não sara, ou então porque nos filam com os dentes e nos forçam a descer a uma altitude moral que nos diminui o carácter e envergonha a consistência.


Há, finalmente, os que serão sempre em número insuficiente, aqueles que nos acrescentam. Fazem-no muitas vezes de forma tão subtil que parecem insinuar-se no outro genoma, que a biologia ainda não desvendou. Outras vezes deixam a marca incisa de um conselho ou de um exemplo. Não raramente fazem-no pela mais depurada forma de ensinar, que é, como alguém disse de Sócrates, pelo simples facto de existirem.

João Lobo Antunes, in, O Eco Silencioso

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